Blitzkrieg
Acabou.
Encerra-se hoje, não o sonho de ser campeão por seis
vezes.
Não a vontade de ser campeão de uma Copa no Brasil – ainda
poderemos ter outra daqui a 64 anos.
Não a história de alguns jogadores na seleção
brasileira.
Não a esperança das nossas crianças para daqui a
quatro anos, na Rússia.
Acabou.
Encerra-se hoje - enterra-se com uma pá de cal - o
fantasma que rondou o imaginário de muitas gerações, acerca da trágica final da
copa de 1950, no velho Maracanã.
Acabou.
Encerra-se hoje o ciclo, o dezesseis de julho e o
temor do Uruguai.
Não vamos mais ouvir falar de Ghiggia, Obdulio, Maspoli
e Schiaffino.
As almas dos jogadores brasileiros daquela final
estarão em paz.
Barbosa, Augusto, Zizinho e Ademir poderão descansar
sessenta e quatro anos depois.
Inicia-se a passagem do bastão das tragédias
brasileiras.
Acabou. Troca-se um Maracanazo, por um Blitzkrieg.
Acabou.
Um trator Mercedes Benz trucida o sonho brasileiro,
inacreditável, imprevisível.
O choro do menino, o mesmo meu de 82, e do meu pai e
meus tios de 1950, aperta o peito de quem o vê.
Não bastava uma eliminação, haveria de ser
acachapante, para finalmente enterrar 50.
Os Deuses do futebol deram um empurrãozinho ao time
alemão, para que nós não sofrêssemos novamente uma derrota final no velho, novo
Maracanã.
Acabou.
Que as novas gerações saibam lidar com esse trauma e
essa impressionante eliminação,
como a geração do meu pai soube, ao levantar a taça em
58, 62 e 70; e como a minha soube nas campanhas de 94 e 2002.
Acabou.
Vamos voltar à vida cotidiana, ao trabalho, à torcida
pelos times de coração em nossos pobres campeonatos, que daqui a quatro anos
tudo se renovará na próxima Copa da Rússia, menos a tragédia Blitzkrieg, de 8
de julho de 2014.