terça-feira, 8 de julho de 2014

Blitzkrieg


Blitzkrieg
Acabou.

Encerra-se hoje, não o sonho de ser campeão por seis vezes.
Não a vontade de ser campeão de uma Copa no Brasil – ainda poderemos ter outra daqui a 64 anos.
Não a história de alguns jogadores na seleção brasileira.
Não a esperança das nossas crianças para daqui a quatro anos, na Rússia.

Acabou.

Encerra-se hoje - enterra-se com uma pá de cal - o fantasma que rondou o imaginário de muitas gerações, acerca da trágica final da copa de 1950, no velho Maracanã.

Acabou.

Encerra-se hoje o ciclo, o dezesseis de julho e o temor do Uruguai.
Não vamos mais ouvir falar de Ghiggia, Obdulio, Maspoli e Schiaffino.
As almas dos jogadores brasileiros daquela final estarão em paz.
Barbosa, Augusto, Zizinho e Ademir poderão descansar sessenta e quatro anos depois.
Inicia-se a passagem do bastão das tragédias brasileiras.

Acabou. Troca-se um Maracanazo, por um Blitzkrieg.

Acabou.

Um trator Mercedes Benz trucida o sonho brasileiro, inacreditável, imprevisível.
O choro do menino, o mesmo meu de 82, e do meu pai e meus tios de 1950, aperta o peito de quem o vê.
Não bastava uma eliminação, haveria de ser acachapante, para finalmente enterrar 50.
Os Deuses do futebol deram um empurrãozinho ao time alemão, para que nós não sofrêssemos novamente uma derrota final no velho, novo Maracanã.

Acabou.

Que as novas gerações saibam lidar com esse trauma e essa impressionante eliminação,
como a geração do meu pai soube, ao levantar a taça em 58, 62 e 70; e como a minha soube nas campanhas de 94 e 2002.

Acabou.


Vamos voltar à vida cotidiana, ao trabalho, à torcida pelos times de coração em nossos pobres campeonatos, que daqui a quatro anos tudo se renovará na próxima Copa da Rússia, menos a tragédia Blitzkrieg, de 8 de julho de 2014.