sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Um domingo de sol, dois amores, duas paixões


O azul do céu e o vermelho do sangue se encontraram neste domingo.
Um encontro que não acontecia há muitos anos, tantos, que não me lembrava da última vez.

O clima era ótimo - amizade, cordialidade e confraternização se viam no evento pré-jogo: "Coração Serrano", onde serranistas e americanos se esbaldavam ao som de um bom e velho rock and roll, regados a cervejas artesanais de Petrópolis e comidinhas especiais, ao lado do campo, na entrada do Estádio Atilio Maroti.

Camisas centenárias, tão tradicionais quanto o futebol, eram a grande atração da tarde.
Não bastava a recente ressurreição do Serrano, precisava ter o America naquela tarde em Petrópolis.

O querido Ameriquinha, do Trajano e do Escobar, subiu a serra, escoltado por três ônibus com seus bravos torcedores, e dentre eles, surgiu bela e confiante, aos noventa anos, Dona Ruth Chaves. Com dificuldades de andar, preferiu torcer do alambrado, parecendo pressentir o pior.

Do lado serranista, os tradicionais guerreiros Theisen e Gilberto, símbolos da resistência de um clube que teimava em sumir, mas que eles insistiam em não deixar.

O futebol raiz estava de volta, torcida família, crianças, avós, todos juntos!
Nada de Grêmio x Inter, Caprichoso x Garantido, era Serrano x America!

Começou o jogo, e me vi ao lado de Dona Ruth, no alambrado - eu estava entre ela e mais alguns torcedores do Serrano, que gritavam para os jogadores do America: - "Joga nada!" - " - volta pra casa!" - teu cabelo é ridículo!", e eis que ao ouvir essa última, Dona Ruth se vira e solta: - "ahh mas as pernas dele são ótimas!". Aos risos, fui cumprimentá-la e parabenizá-la pela dedicação ao clube - extremamente gentil, mostrou-me um sorriso do tamanho do mundo e abriu seus braços em minha direção para um caloroso abraço.

As bandeiras azuis tremuladas na arquibancada frontal, não enganavam, nós estávamos ganhando o jogo, e meu coração como em um momento de Dona Flor, queria não só o azul, mas também o vermelho, sentindo o doce e o amargo, disse à Dona Ruth: Ano que vem, estaremos juntos, novamente aqui, mas pela primeira divisão! Ela voltou a sorrir, e me disse: Combinado!

Serrano e America, futebol raiz, dois amores, duas paixões.

*Foto de Marcelo Berner